Quarta, 04 de Dezembro de 2024

Fundação do ABC discute atendimento em casos de violência sexual contra menores de idade

Especialistas, gestores e profissionais reforçam a importância da integração entre saúde, justiça e assistência social para atendimento humanizado às vítimas
Por janete ogawa
1 de dezembro de 2024 - Foto: Divulgação FUABC

A Fundação do ABC, por meio de seu Programa de Qualidade e Melhoria Contínua, promoveu nesta semana o evento “Compartilhando boas práticas: atendimento à criança e ao adolescente vítimas de violência sexual”. A atividade proporcionou rico debate sobre o tema e a divulgação de iniciativas que estão em andamento na FUABC para combater o problema nas regiões onde presta serviços. Promovido no Anfiteatro do Prédio CEPES do Centro Universitário FMABC, em Santo André, o evento contou com a participação de aproximadamente 160 pessoas.

Entre os presentes estiveram diretores, membros de diretoria técnica, gestores assistenciais, equipe de serviço social das unidades gerenciadas, representantes do Conselho Tutelar e a equipe do Comitê Participativo da Qualidade da FUABC. No local reuniram-se especialistas e profissionais de diversas áreas, integrando saúde, justiça e assistência social no cuidado a vítimas de violência.

Na abertura, a diretora de Projetos e Qualidade, Gleice Girotto, destacou o impacto do evento no fortalecimento da rede de proteção. “A nossa expectativa é de que este evento nos torne mais preparados e unidos em nossa missão de combater a violência sexual contra crianças e adolescentes. Nosso compromisso é proporcionar um atendimento integral e de qualidade a essas vítimas, promovendo não apenas o cuidado físico, mas também emocional e psicológico”, afirmou.

Na sequência, o presidente da FUABC, Dr. Luiz Mário Pereira de Souza Gomes, ressaltou o papel da instituição na implementação de práticas inovadoras para o atendimento às vítimas. “A violência sexual é uma violação de direitos que exige um esforço coletivo entre diferentes setores da sociedade. Na Fundação do ABC, estamos comprometidos em aprimorar os protocolos e garantir que as vítimas recebam o cuidado adequado em um ambiente humanizado. Há excelentes iniciativas sendo realizadas nas nossas unidades, como a implementação de fluxos especializados de atendimento e parcerias interinstitucionais que fortalecem a rede de proteção às vítimas”, destacou.

DEBATE

Para abrir as discussões, foram convidadas a coordenadora do Serviço Social do Complexo de Saúde de São Bernardo do Campo, Sandra dos Santos Oliveira, e a médica ginecologista Dra. Maria Auxiliadora Figueredo Vertamatti, idealizadora e coordenadora do PAVAS, o Programa de Atenção à Violência e Abuso Sexual de São Bernardo do Campo.

A médica lembrou a relevância do programa que idealizou e coordena no cuidado integral às vítimas. “Desde a criação do PAVAS, nosso foco tem sido proporcionar acolhimento, escuta e apoio especializado. Com o passar dos anos, vemos o impacto positivo dessa iniciativa, que fortalece a rede de proteção e o combate à violência sexual”, disse. Já Sandra destacou a importância da capacitação contínua e do trabalho em rede. “Muitos casos de violência chegam primeiro nas escolas ou nas unidades básicas de saúde, e é essencial que esses profissionais estejam preparados para acolher as vítimas. Por isso, investimos em formações contínuas e no matriciamento com os profissionais da ponta, como assistentes sociais e psicólogos”, explicou.

Em seguida, houve apresentação do Hospital Municipal de Mogi das Cruzes (HMMC), unidade que mantém desde 2019 um protocolo multidisciplinar para atendimento de crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. A assistente social Erica dos Santos Cassere destacou os procedimentos adotados pela unidade, que visam garantir uma abordagem ágil e segura às vítimas. “Nosso hospital conta com um protocolo bem estruturado, que inclui desde a triagem inicial até a condução do atendimento multidisciplinar. Em casos de violência sexual, as crianças são atendidas em salas exclusivas, com total privacidade, para evitar revitimização. Além disso, garantimos um atendimento imediato, com a criança sendo encaminhada rapidamente para o atendimento especializado”, explicou.

Diretora técnica do HMMC, Dra. Juliana Govoni Baccani abordou uma mudança no perfil das vítimas observada depois de 2022. “Antes a faixa etária mais comum entre as vítimas atendidas era de 5 anos. No entanto, após a pandemia, essa média passou para 7 anos. Esse aumento tem sido perceptível especialmente nas escolas, que têm sido locais de identificação de casos de abuso. É importante destacar a parceria com a Guarda Municipal, que criou um projeto nas escolas de ensino fundamental, abordando temas como bullying, racismo e violência sexual, o que tem ajudado a identificar mais casos de abuso”.

A última atividade do evento, realizado em 27 de novembro, foi marcada por uma roda de conversa que teve como mediadora a docente da disciplina de Hebiatria no departamento de Pediatria do Centro Universitário FMABC, Dra. Maria Aparecida Dix Chehab, que ressaltou a importância de um trabalho colaborativo entre saúde e justiça. “A atuação conjunta entre esses dois setores tem sido fundamental para o bem-estar das vítimas, permitindo que os processos legais sejam conduzidos de forma eficaz, além de garantir o suporte psicológico e social necessário para a recuperação das vítimas”.

Integrante da roda de conversa junto à assistente social Sandra dos Santos Oliveira e à Dra. Maria Auxiliadora Figueredo Vertamatti, a magistrada do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e integrante da COMESP (Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Poder Judiciário do Estado de São Paulo), Dra. Teresa Cristina Cabral Santana, fez uma reflexão sobre os avanços no enfrentamento da violência doméstica e sexual. “Eu sou otimista, mas também realista. Vi muitas mudanças ao longo dos anos. Hoje, vejo mais homens envolvidos nas discussões sobre violência, o que é um sinal positivo. No passado, quando começamos a falar sobre políticas públicas, éramos muito criticadas. Atualmente há mais reconhecimento e mais ações concretas. Isso é um grande avanço”, pontuou.

Assim, com um olhar atento às necessidades das vítimas e aos desafios que ainda existem, o encontro reforçou o compromisso da Fundação do ABC em promover a integração entre as diversas áreas da sociedade para garantir que a violência sexual seja combatida de maneira contundente e eficaz, proporcionando às vítimas um acolhimento digno e humanizado nos serviços de saúde.

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